Islândia – Terra do Gelo e Fogo.
O curso “Legends and Culture: think globally, act locally” decorreu na Islândia e baseou-se em visitas ao património local, natural e histórico, de forma a aplicar essas experiências em diferentes áreas da educação, tais como Ciências Naturais, História, Literatura, Geografia, disfrutando das antigas lendas islandesas e da natureza ímpar desta ilha.
Os participantes tiveram a oportunidade de avaliar a importância da preservação da Natureza e de todo o património islandês, sendo o objetivo final do curso a elaboração de um guião para os alunos, com aplicabilidade nos países de origem, com o objetivo de preservar o património, cultura e natureza locais graças à experiência vivida neste curso de Erasmus.
Ao longo de sete dias, percorremos toda a costa sul e a costa oeste da Islândia, bem como os locais mais icónicos da capital e arredores. De caráter iminentemente prático, o curso proporcionou-nos um vasto contacto com a geologia local, caracterizada pelo contexto tectónico desta ilha, que é atravessada pela dorsal médio-Atlântica, estando parte da ilha na placa Euroasiática e a restante na placa Norte-Americana, o que a torna num dos locais geologicamente mais ativos do planeta: possui cerca de 20 sistemas vulcânicos ativos, o que resulta em amplos campos lávicos e praias de areia preta, proveniente da erosão dos basaltos, principal rocha da ilha; para além disso, o elevado número de nascentes termais, muitas delas verdadeiras piscinas naturais, fumarolas e geiseres existentes, bem como as espetaculares cascatas, transformam a Islândia num pequeno paraíso na Terra. Nesta cruzada atingimos o apogeu com a observação do vulcão Fagradalsfjall em atividade. A erupção vulcânica, com a libertação de grandes quantidades de lava fluida, formou longas escoadas visíveis no horizonte, tendo sido momentos de enorme emoção e de segregação de adrenalina pura.
E porque não é só fogo nesta terra, vimos também glaciares impactantes, apesar da sua redução nos últimos anos devido ao aquecimento global.
A biodiversidade também imperou e tivemos o privilégio de observar de perto focas, puffins (vulgo papagaio-do-mar), e baleias no horizonte.
Sendo um local com um elevado fluxo térmico, grande parte da eletricidade de toda a ilha provém da energia geotérmica, e há uma enorme preocupação com a sustentabilidade. Dentro dos países desenvolvidos, é talvez um dos que se nota uma maior harmonia entre Homem e natureza, com um grande respeito pela mesma. E é também nesse sentido que surgem as lendas e os contos populares islandeses, um imaginário riquíssimo, de estórias mágicas povoadas por elfos, trolls, fantasmas e espíritos de uma fantástica diversidade. Estes contos passam de geração em geração, muitas vezes como mensagem figurativa para apelar à importância de tudo o que nos rodeia. Cada cascata, cada montanha, às vezes até rochas, tem uma lenda associada, e tivemos o prazer de conhecer muitas delas através do nosso guia, à medida que passávamos pelos locais, como é o exemplo do “fiorde da baleia” – Hvalfjörður -, situado entre Reiquiavique e o nordeste da ilha, visível da Ring road, principal estrada que circunda toda a ilha. Rodeado por esplêndidas montanhas (encostas da baleia) e com um largo lago, da baleia, obviamente, no seu interior. A origem destes nomes é explicada pela lenda “Redhead, the evil whale of Hvalfjörður”:
“Alguns homens de Suðurnes, na península de Reykjanes, foram até Geirfuglasker para caçar pinguins imperadores. Na hora de regressar, um dos homens estava desaparecido, e os outros voltaram sem ele, acreditando que tinha morrido. Um ano mais tarde, os mesmos homens regressaram às ilhas rochosas e encontraram o companheiro vivo. Dizia-se que os elfos lhe lançaram um feitiço, tendo-o acolhido entre eles. Mas ele não estava satisfeito e decidiu regressar com os restantes companheiros. No entanto, tinha engravidado uma mulher elfo que o fez prometer que, se um dia levasse a criança até ele, a batizariam numa igreja. Anos mais tarde, durante uma missa, um berço apareceu à porta da igreja com a nota: “O homem que for pai deste bebé deverá certificar-se que ele é batizado”. As pessoas ficaram atónitas e o padre suspeitou que o bebé pertenceria ao homem que passou um ano fora. Pressionou-o a admitir ser o pai, mas o homem negou. Nesse momento, apareceu uma mulher alta e robusta e disse ao homem: “Vou lançar-te um feitiço: transformar-te-ás na mais temível das baleias e afundarás muitos navios”. Depois apanhou o berço e desapareceu. Todos assumiram ser a mulher elfo. O homem enlouqueceu e desatou a correr em direção ao mar. Lá chegado, saltou de um penhasco, transformando-se instantaneamente na pior e mais diabólica das baleias, apelidada de “ruiva” devido ao chapéu vermelho que o homem usava. A baleia tornou-se um flagelo e afundou mais de 19 navios entre Seltjarnarnes e Akranes. Com o passar do tempo, a baleia passou a abrigar-se num fiorde entre Kjalarnes e Akranes e assim nasceu o nome de Hvalfjörður (fiorde da baleia). Nessa altura, vivia um padre em Saurbær, nas redondezas do fiorde. Apesar de velho e cego, tinha poderes sobrenaturais. Os filhos pescavam frequentemente no mar, à saída do fiorde, e um dia foram apanhados pela baleia assassina. O padre sofreu uma dor profunda com a morte dos filhos e pediu à única filha que lhe restava que o guiasse até às águas do fiorde. Levou com ele um pau de madeira e, lá chegados, espetou o pau no chão´, perguntando à filha como estava o mar. Ela respondeu que parecia um espelho de água, calmo e sereno. Uns minutos depois, o pastor fez a mesma pergunta e a filha respondeu que estava a ver uma grande sombra negra a emergir à tona, como se fosse um enorme peixe, e que vinha na direção deles. O padre pediu que o levasse terra adentro percorrendo a linha da costa do fiorde. A sombra negra acompanhou-os o tempo todo: consoante o fiorde ia ficando mais estreito e a água menos profunda, a menina reparou que a sombra tinha a forma de uma enorme baleia que nadava ao longo do fiorde como se estivesse a ser guiada. Ao chegarem ao fim do fiorde, onde desemboca o rio Botnsá, o padre disse à filha que o conduzisse para a margem oeste do rio. Uma vez lá, o velho padre começou a escalar a montanha acompanhado da baleia, que dava difíceis saltos na água, para o acompanhar. O curso de água era pequeno e a baleia enorme. Quando chegaram à garganta onde a cascata deixa cair as suas águas vindas do topo da montanha, o espaço era tão ínfimo para o cetáceo que este começou a abanar e a debater-se com forca para subir o curso de água. Quando finalmente subiram a cascata, tudo à volta começou a estremecer como se fosse um grande tremor de terra. Das rochas saiu um grande troar, como se de uma trovoada se tratasse. Daí o nome da cascata – Glymur (rugido) e as encostas que circundam a cascata são conhecidas como Skálfandahæðir (encostas que estremecem). Mas o padre estava decidido e não parou até levar a baleia até ao lago de onde o rio Botnsá nascia e que desde então é denominado de Hvalvatn (lago da baleia). A encosta do lago por onde a “Ruiva” entrou, tem também o nome de Hvalfell (encosta da baleia). Quando o velho padre regressou à Quinta com a sua filha todos os habitantes da região e regiões adjacentes ficaram eternamente agradecidos. Nunca mais ninguém viu “Ruiva”, a baleia demoníaca, mas foram encontrados recentemente uns impressionantes ossos de baleia no lago, comprovando e reforçando a veracidade desta lenda.”
Como diria o saudoso Fernando Pessa, “E esta, hein?”
Mobilidade presencial de 18 a 24 de julho de 2021
Participantes: Cátia Santos e Mário Rocha
Projeto Cofinanciado pelo PROGRAMA ERASMUS+ 2020 CONTRATO FINANCEIRO N.º: 2020-1-PT01-KA101-078132