Manuel Pinto Barros, Diretor de Fotografia, deslocou-se ao Agrupamento de Escolas de Cristelo, no passado dia 7 de outubro de 2022, e esteve à conversa com os alunos do Ensino Profissional e Secundário, do Curso de Técnico de Comunicação sobre cinema e o seu percurso profissional até chegar a Diretor de Fotografia. Atividade realizada no âmbito do PNC Plano Nacional de Cinema, organizada pelo seu coordenador Joel Brandão, teve o intuito de despertar nos jovens o prazer para o hábito de ver cinema ao longo da vida, bem como a valorização do cinema enquanto arte, junto das escolas e respetivas comunidades educativas. O convidado realizou ainda um workshop com os alunos do Ensino Profissional sobre iluminação para cinema, os diferentes tipos de luzes e câmaras e como muda a luz consoante a posição de câmara.
Quantos filmes já trabalhou? Qual o filme que mais o marcou? Qual o motivo? Em ficção já fotografei mais de 30 filmes, entre curtas, longas metragens, séries e documentários. Se contarmos com publicidades, institucionais e videoclips, penso já ter ultrapassado os 150, talvez 200filmes.
Sempre pensou ser diretor de fotografia? Não. A ideia de ser director de fotografia surge por volta dos 20-22 anos, até porque a minha formação era em Ciências. Só com a entrada no ensino superior é que escolhi a formação em artes, mais precisamente em Cinema.
Como foi a construção da direção de fotografia da série Cuba Libre? Foi uma construção em conjunto com o Realizador e o Produtor Henrique Oliveira. Desde o primeiro contato, o Henrique foi muito claro e realista em relação ao projeto, o que ajudou muito na preparação e construção visual de um Projeto.
Sendo uma narrativa que se desenvolve ao longo de cinco décadas, a primeira ideia que me surgiu foi a de fazer uma série que visualmente fosse passando pelo tempo, com recurso a diversas objetivas e filtros. Mas, após alguma pesquisa e em conversa com o Realizador, entendemos que o melhor seria não existir uma mudança drástica a nível visual. Essa mudança já existia pelos espaços filmados (Cuba e Lisboa) e, depois, pelas mudanças referentes ao guarda-roupa, aos cabelos e à maquilhagem. Assim, visualmente e no que concerne à câmara procurou-se algo mais unitário, sempre com a preocupação dramática ao nível da luz, como por exemplo, o escritório de Silva Pais, mais obscuro que a sua casa: em casa era o pai, no escritório era o braço direito da ditadura.
Como costuma ser a relação do Realizador com o Diretor de Fotografia? A relação com um Realizador tem que assentar essencialmente na confiança, comunicação e respeito. Confiança, porque estamos a partilhar criação artística, ou perspetivas sobre um determinado assunto para ser transformado em imagens, durante muito tempo e de forma muito intensa; comunicação, porque sem a comunicação é impossível chegar a uma relação de confiança; respeito, uma vez que muitas vezes não concordamos com alguma ideia: ou tentamos demover essa ideia ou a aceitamos, o que tem que ser feito com respeito, dado que todas as ideias são válidas e passíveis de serem julgadas.
Como considera a experiência de ter vindo ao Agrupamento e de ter dado uma palestra aos alunos do Ensino Profissional e Secundário? Foi extremamente positiva. Permitiu-me olhar para o meu trabalho e pensar nele para ser apresentado a um público jovem. A partilha de conhecimento é algo de que gosto imenso e foi muito bom e enriquecedor ter um auditório cheio a ouvir e a questionar.
De que forma o cinema pode cruzar-se com o ensino em Portugal? Como todas as artes, o cinema pensa o nosso mundo, seja com perspetivas do futuro , seja com ideias do passado. O cinema permite que diferentes culturas viagem mais rapidamente pelo mundo. O cinema e ou a televisão podem não ensinar concretamente, mas podem abrir novas perspetivas ou semear a curiosidade. Pegando em “Cuba Libre”, quantos de vocês sabem o que foi a Crise dos Mísseis?!? Se viram a série, já ouviram falar. Para saberem mais sobre o tema, se tiverem curiosidade, têm ao vosso alcance uma data de ferramentas que vos podem ajudar .
Nós, alunos do Ensino Profissional, no próximo ano letivo acabamos o curso e vamos deparar-nos com o mercado de trabalho. O que diria a um jovem que pretende entrar no mercado audiovisual? Recomendaria que apostasse na formação e aproveitasse as oportunidades que forem surgindo para potenciar e exaurir as valências que cada jovem, de per si, já possui.
Muito obrigada(o) pela sua presença e colaboração!